Hoje senti de compartilhar uma sessão que aconteceu mais para frente. Foi uma sessão TENSA, e eu já sabia que seria assim muito tempo antes. Mas tudo tem o seu motivo.
ATENÇÃO: Estas vidas tem gatilhos de abuso, autoflagelo e situações de risco. Não leia se você sentir que pode te perturbar.
INGLATERRA, SÉCULO XIX
Alguma coisa ruim vai acontecer.
Casa antiga, paredes vermelhas, escada de madeira escura que abre em 2 partes, uma janela bem grande no primeiro patamar. Estou parada diante dessa janela, uso vestido vermelho de veludo, Tenho a sensação de que joguei alguém pela janela. Um homem que usa fraque, ele está caído de bruços na grama do jardim, todo torto. Acho que é Inglaterra, época vitoriana. Não sei se atirei ele pela janela, pois ela está inteira, mas ele está lá embaixo. Não sinto nada. Deveria estar, mas estou fria. Meu nome é Anette. Acho que esfaqueei ele, mas não vejo sangue. Eu era casada com ele, mas já casei querendo matá-lo. Tem uma empregada parada no pé da escada, segurando uma bandeja, me olhando horrorizada. Ela usa touca branca, um vestido cinza e avental branco.
Sinto minhas mãos pesadas de novo.
Acho que matei meu marido porque queria a fortuna dele.
Não consigo sair dessa cena, e minhas mãos pesam muito.
Eu sei que o que fiz foi errado, mas não me arrependo, não sinto nada. Sou uma pessoa habitualmente fria.
Volto para o meu quarto e dou um tiro no meu peito. Caio na cama.
Minhas mãos pesam muito.
Acho que meu marido já tinha filhos de outro casamento, mas naquela hora eles não estavam em casa, só nós 2 e os empregados. Estou preocupada com a filha mais nova dele, o que ela vai pensar de mim quando chegar em casa?
Quando acordo, a cama tinha uma colcha na cor Verde Paris (que era feita com arsênico), a casa estava abandonada, empoeirada, velha, e eu estava sozinha.
Minhas mãos pesam muito.
Comecei a andar pela casa, procurando alguém, mas escuto uma gargalhada ao longe. Me olhei no espelho, um espelho velho, estou descabelada, com olheiras enormes, muito magra. Tenho cabelos escuros, pareço comigo de agora, mas o olhar é muito frio, de uma pessoa que deixou de sentir as coisas para se proteger. Pareço ter uns 30, 35 anos no máximo.
Estou na sala de jantar, escura, paredes verdes na cor Paris, uma mesa enorme de madeira escura posta com pratos, tudo empoeirado e velho, abandonado. Me sinto mal, triste, arrependida.
Olhei pela janela de novo para ver se meu marido ainda está lá, mas não está, tem muita neblina, mal dá para ver um palmo adiante. Um longo gramado verde.
Sei que passou muito tempo desde que me matei até acordar.
Tem uma mulher esfarrapada dentro da casa, desgrenhada, velha. Ela é quem está rindo de mim. Ela olha pra mim, aponta e grita comigo numa voz esganiçada. Ela foi minha mãe, acho que deixei ela morrer sozinha e abandonada.
Ela aponta pra mim e grita, eu apenas a olho da escada, de costas para a janela.
Meu marido aparece atrás de mim.
Ele voa no meu pescoço, rolamos escada a baixo, eu nem me defendo. Ele me dá vários socos, mas me chama por um nome masculino, e a minha mãe está instigando-o a continuar a me bater. Eu não reajo pois sei que a culpa é minha.
Eu vim de uma infância muito pobre nos subúrbios de Londres, éramos só minha mãe e eu, nossa casa era um lugar bem horroroso e frio, em um beco sujo e úmido. Assim que consegui encontrar um rico para casar, a abandonei em uma espécie de asilo e nunca mais fui atrás.Eu queria esquecer meu passado e ser uma pessoa da alta sociedade.
Sempre fui muito fria e calculista, sempre senti um peso muito grande naquela encarnação, mas nunca demonstrei nenhum tipo de sentimento por ninguém. Esta vida era um fardo.
Alberto apareceu, está parado ao lado de um relógio grande, de chão, me observando. Ele está esperando que eu o chame, eu sei disso, mas não quero chamá-lo. Acho que meu marido e mãe não conseguem ver ele. Minha cabeça dói muito.
Eu conheci meu marido em uma corrida de cavalos no Pall Mall, eu forcei este encontro, e ele nunca soube das minhas origens humildes.
Não consigo sair dessa cena.
O nome masculino que meu marido me chama começa com a letra A também.
O relógio começou a badalar, e os 2 paralisam, com medo de alguma coisa.
Apareceu uma criatura feita de sombras, escura como um breu, com uma forma demoníaca. Ele anda como um lobisomem, meio curvado, é muito alto, tem olhos frios e brancos. Da sua nuca saem 2 chifres grossos e grandes, que se curvam na horizontal para a frente de seu rosto, é uma criatura cuja presença aterroriza todo mundo. Acho que ele saiu de dentro do relógio?
Meu marido e mãe se afastam de mim, aterrorizados.
Eu sinto muito medo da criatura, mas não me mexo. Seja lá o que for acontecer, eu mereço.
A criatura fala que eu sei o motivo de ele estar ali, e que sei quem ele é. Eu tinha que lembrar de tudo de ruim que já fiz, porque eu tinha que pagar.
Ele fala como um rugido, mas eu entendo o que ele diz.
Ele me pegou pelo pescoço ou pelos cabelos, não sei, e me puxa. Na mesma hora parece que mudamos de dimensão.
Estamos em um lugar como se fosse um fundo de vale, escuro mas com uma luz mortiça. Não há nenhum tipo de vegetação, é tudo rocha e poeira, o vento uiva o tempo todo. Ele me arrasta pelo pulso para uma caverna, e eu não faço nada.
Conforme ele me arrasta, vou olhando pelo caminho que percorremos e vejo várias figuras humanas e esfarrapadas se escondendo dele em buracos invisíveis.
Todos têm muito medo dele.
Sei que Alberto está ali, e sei que ninguém consegue vê-lo. Ele me olha, à distância, esperando alguma reação minha. Eu evito olhar para ele, estou envergonhada.
Não sou mais Anette, sou um homem com roupas esfarrapadas.
Meu pulso (que a criatura está me arrastando) está queimando, mas queima frio, não quente.
Dói muito.
Sinto muito medo, mas sinto uma tristeza muito maior, e não reajo.
Ele me atirou num buraco cheio de ossos, crânios, como se fosse uma piscina de bolinhas, mas só de ossos. Ouço estalos quando caio ali.
Ele falou que eu já sabia exatamente o que ele faria comigo, porque eu já tinha feito isso com ele antes.
Peguei um crânio e olhei, e começo a lembrar de alguma coisa muito ruim. Não quero lembrar.
Um cheiro horrível no ar.
As pessoas que estavam escondidas voltam quando a criatura some, e começam a atirar coisas em mim, pedras, ossos, sei lá. Dói quando me atingem.
Me encolhi, abracei meus joelhos e comecei a chorar. Lembrei de algo que eu agora (Amanda) não sei o que é. Não quero me lembrar, mas explica tudo isso.
Peço perdão para a minha mãe.
ROMA OU GALILÉIA, SÉCULO I
Me vejo como um soldado romano.
Sei que não vai sair coisa boa daí.
Acho que fui um general.
Na época de Cristo.
Eu usava uma lança, o tempo todo, era minha arma favorita.
Eu deixava meus soldados fazerem atrocidades com as pessoas que vencíamos. Eu os estimulava a fazer isso, principalmente contra mulheres.
Eu também fazia isso.
Eu desprezava a todos que não fossem patrícios.
Invadi a casa de uma família que era cristã, e promovi uma chacina ali. Eu os trucidei, com muita crueldade e desprezo. Era a mãe, o pai e um menino pequeno, acho que menos de 10 anos de idade. Abusei da mãe.
A mãe era a minha mãe da encarnação de Anette, e o pai era o meu marido.
O menino foi o último a ficar vivo, não sei se ele fugiu ou eu o deixei fugir, mas ele viu tudo o que fiz. TUDO.
O menino era a criatura demoníaca.
Ele teve uma vida péssima, coisas terríveis aconteceram com ele, e a cada evento ruim, mais ódio ele nutria por mim. Ele morreu crucificado, e me amaldiçoando.
Me vi dentro de uma caverna observando uma pintura na parede representando Jesus e um peixe. Passei a mão pela pintura, meio fascinada e meio com desprezo. Seguro um archote.
Essa representação de Jesus e do peixe acendeu alguma coisa dentro de mim, mas eu logo me afastei dali.
Tenho a impressão que eu estava em um monte no momento de uma crucificação em massa. Na hora em que um dos crucificados morreu, o tempo ficou muito escuro, uma tempestade elétrica começou. Eu soltei a lança que eu estava segurando, com medo dela atrair algum raio. Um vento frio começou, e eu comecei a sentir um desprezo violento por mim mesma. Uma grande tristeza se abateu sobre mim.
Vejo uma mulher com lenço na cabeça, ajoelhada aos pés de uma cruz. Ela chora muito, em total desespero, um fio de sangue escorre do crucificado sobre ela. Tem uma outra mulher com ela e um rapaz jovem também, que está tentando tirá-las dali por causa da tempestade elétrica.
Eu peço para elas saírem dali com gentileza e estranho esse comportamento em mim, não costumo ser gentil com a plebe.
Olhei para as nuvens e vi o formato da criatura.
Eu caí em desgraça na minha vida militar, comecei a beber muito, morri esfaqueado em um bar.
Quando morri, acordei em um lugar totalmente escuro, deitada em um chão duro e arenoso. Sei que há pessoas ao meu redor me xingando e jogando pedra, mas eu sei que mereço. Sinto muito frio.
Fiquei muito tempo ali, chorando. A cena da morte do crucificado, o sangue pingando sobre as mulheres, me causava um desespero muito profundo. Lembro que elas não choravam com a intensidade de desespero que eu chorei naquele dia, e chorava agora.
Apareceu uma luz, muito forte, como um farol de carro. Está em cima de mim, me cegando. Eu protejo meus olhos, sei que tem alguém ali na minha frente. Estou tão cansado que apenas viro para o outro lado.
Essa pessoa me estendeu a mão e pediu para eu ir com ela.
Eu disse que não merecia, que eu era um monstro, a pessoa falou que todo mundo merecia uma chance. Eu não poderia pelo menos ir com ela e escutar o que ela tinha a dizer?
Era o Alberto.
Depois eu poderia decidir se voltava para lá ou não.
Eu fui com ele.
De volta àquela cabana.
Alberto concorda que eu fiz coisas horríveis, por arrogância e por medo.
Minha infância nessa vida foi bem difícil, o único jeito que encontrei para sobreviver foi me tornar cada vez mais duro e implacável.
Ele diz que eu tinha que me perdoar.
Estar naquela crucificação foi proposital, eu tinha sido colocada ali para dar uma mudada na minha vida, mas ao invés de eu mudar para o bem, me afundei.
Eu sempre poderia recomeçar e estava tudo bem.
Perguntei pelas pessoas que eu tinha matado, principalmente a família que massacrei. Essa situação ficou na minha mente por muitos anos.
Perguntei por elas, e o Alberto diz que era melhor eu não pensar neles naquele momento, porque primeiro eu tinha que cuidar de mim, Mas eu teria problemas para sempre com o menino.
Eu pergunto para ele o que era o “para sempre”, pois achava que tudo tinha acabado com a minha morte, e ele diz que não, morrer não era o fim de nada. Assim como já tiveram muitas coisas antes, teriam muitas coisas depois. Eu precisava parar de sentir aquela tristeza, eu digo que era impossível.
Alberto diz que o importante era que no final eu tinha me arrependido.
Lembrei disso tudo sentada sobre os crânios.
Mesmo assim, não quero sair dali.
Na verdade, fiquei presa no instante do massacre daquela família.
A criatura aparece sentada atrás de mim, sobre a pilha de ossos.
Ele fala de todas as dores que causei nele, ninguém teria pena de mim, de um monstro, e eu ficava me escondendo em corpos diferentes mas a minha essência continuava a mesma e isso sempre iria atraí-lo para me buscar.
Ele disse que eu nunca iria mudar. Era só acontecer a situação propícia para eu voltar a ser a mesma pessoa de sempre, e nesse momento, ele iria aparecer.
Ele não me torturava fisicamente, nunca encostou em mim. Ele me tortura psicologicamente, me fazendo lembrar de coisas horríveis.
Tento pensar em um jeito de me matar, mas eu ja estava morta.
Essa criatura me diz que eu matei Jesus, e eu jamais poderia ser perdoado, pois tinha matado o Salvador. Minha vida seria eternamente amaldiçoada.
Peço para parar um pouco a sessão, vou ao banheiro, e me acabo de chorar. Sinto o mesmo desespero. Sei que o Alberto está ao meu lado, mas a dor e o horror são enormes.
Peço perdão mentalmente, nem sei para quem.
Retomo a sessão.
A criatura me faz lembrar de tudo de errado que eu fiz, e de coisas que eu ainda faria.
Escuto a voz do Alberto falar que eu não deveria dar ouvidos à criatura, eu não podia escutar aquilo, pois além de não resolver nada para mim, não resolveria nada para ninguém.
Tento me cortar com um fragmento de osso, mas não funciona. Minha cabeça lateja insuportavelmente.
Preferia uma tortura física, estava até preparada para isso.
A luz aparece quando estou sozinha. Alberto agachou ao meu lado, passou a mão pela minha cabeça e disse que precisávamos sair dali naquele momento, eu não poderia continuar ali de jeito nenhum.
"O que você fez já estava feito, não havia necessidade de ficar pensando naquilo de novo", ele me diz.
Eu tinha melhorado muito desde aquela época, ainda cometia uns erros, mas ficar pensando no que fiz quando eu não tinha informação não iria resolver nada.
Ele me abraça e me tira dali.
Estou em um hospital, sentada na beira de uma cama. Não consigo olhar ninguém nos olhos (e trago isso até hoje em mim), sinto vergonha.
Alberto e uma mulher estão comigo, me consolando. A mulher é uma das mulheres que estavam no pé da cruz. Ela é simples, tem cabelos longos e escuros, usa uma roupa clara e tem um olhar muito gentil.
Ela diz que está tudo bem, que aquela situação tinha sido um acordo, que eu tinha aliviado o sofrimento da pessoa que estava na cruz, e que eu não estava me lembrando naquele momento, mas tudo aquilo já tinha sido acordado a muito tempo atrás.
Eu tinha topado fazer aquilo, eu sabia que seria bom.
Alberto passa a mão nas minhas costas e diz que está tudo bem. Aquele tipo de lembrança eu iria esquecer por muito tempo, pois ainda não estava pronta para entender.
Perguntei o que tinha que fazer para esquecer, e ele respondeu que encarnar era a solução. Encarnar me faria esquecer, e eu esqueceria por muito tempo, até ter compreensão para isso.
O hindu Hanuman também está ali. Na verdade tem um monte de gente alí, mas minha atenção está nos 3 (Alberto, a moça e o Hanuman). Hanuman está tratando de uma ferida enorme que tenho na perna. Ele diz que logo logo eu iria esquecer e tudo ficaria bem. Ele também diz que eu fui muito valente por ter aceito aquele acordo na crucificação, porque ninguém mais quis fazer o que eu fiz. Fui a única a aceitar, e isso contava muito para a minha evolução. O problema foi lembrar do jeito que foi provocado.
Começo a me sentir com saudade de alguém que não sei quem é (mas eu, Amanda, sei que é o Mestre do Barco). Alberto me fala mentalmente que a pessoa que eu estava lembrando estava olhando para mim e estava sorrindo e feliz.
Com a visita deles, e principalmente da moça, começo a esquecer e a me sentir melhor. Fica apenas um leve mal estar, e também não faço questão de lembrar.
Estou sentada na beira da cama, está de noite, mas a Lua está cheia. Olho para as minhas pernas.
Sinto as mãos pesadas por causa da lança que cravei no crucificado.
Olho minhas pernas balançando e penso porque eu ainda não consegui parar de errar. Porque esfaqueei meu marido?
Sabia que teria de me acertar com ele, com minha mãe, com a criatura.
Alberto está sentado atrás de mim, no escuro (ou ele não estava lá mas falou comigo na minha mente) e falou que agora eu não iria poder resolver aquela situação, porque não dependia de mim. Se eu fosse atrás deles agora, a única coisa que aconteceria é eu ser pega como refém de novo.
"Não faça isso!", ele diz.
Essa sessão foi muito tensa, mas eu estava preparada para encarar.
Na ultima sessão que fiz, tive uma resposta sobre o crucificado (e não, não era Jesus).
Minha mãe na vida de Anette (que era a mãe da criatura demoníaca na vida na Galileia) é a minha mãe hoje. O marido da Anette era o pai da criatura demoníaca, e hoje é minha irmã.
Só posso agradecer ao meu mentor e aos meus amigos, por serem sempre tão presentes e bondosos comigo.
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